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31 de out. de 2012

CIRURGIA PLÁSTICA NA ADOLESCÊNCIA

                                          


A adolescência é o período que se situa, na evolução do ser humano, entre a infância e a fase adulta. Em termos etários, entre os 12 e 21 anos.

Contudo essa definição tem sofrido muitas alterações, uma vez que as mudanças culturais, educacionais e ambientais anteciparam o amadurecimento das pessoas, fazendo com que crianças de 8, 10 anos de idade já exerçam papéis que seriam pressupostos para pessoas de maior idade.

Por outro lado, também por injunções familiares, sociais e até econômicas, jovens com mais de 21 anos, às vezes até entrando na faixa dos 30 anos, pensam e agem como adolescentes.

De qualquer forma, mesmo não se prendendo às questões etárias, pode-se dizer que a adolescência é o período de intensas modificações físicas e mentais que transformam a criança no adulto. E é exatamente por causa dessas transformações que os adolescentes são, muitas vezes considerados desagradáveis, recebendo até o nome deturpado de "aborrescentes". Contudo não se pode negar que é uma fase extremamente difícil, tanto para os próprios indivíduos que a vivenciam como para os que com eles são obrigados a conviver.

O curioso é saber que, mesmo sendo essa fase um período tão marcante na história de todos os seres humanos, do ponto de vista da medicina somente agora se tem dado uma maior atenção às pessoas que vivenciam essa etapa.

Para as crianças, há muito existe a pediatria. Para os idosos, a geriatria. E para os adultos, a clínica convencional. Mas, e para os adolescentes?

Em alguns centros já se esboça uma especialidade médica destinada exclusivamente a essa fase evolutiva. E na cirurgia plástica?

Com certeza os especialistas lidam, com freqüência, com pessoas tipicamente adolescentes. Por vezes adolescentes precoces, outras vezes adolescentes prolongados...

De qualquer forma há que se ter uma atenção especial a eles já que sua característica básica é a certeza do que querem, repleta de incertezas sobre o que dizem estar querendo.

Atender em consulta um adolescente exige um bom preparo do especialista, superior a exclusiva formação em cirurgia plástica.

Uma das características dos adolescentes atuais é a irreverência e a maneira incisiva como dizem querer alguma forma de tratamento.

Contudo, pela sua própria natureza, o adolescente também pode se apresentar de forma totalmente oposta. Inseguro, calado, esperando que as coisas aconteçam. Não importa com qual das duas imagens se apresente, o adolescente-cliente deve ser ouvido e, de preferência sem maiores interferências dos pais que geralmente os acompanham.

Deve o cirurgião questionar diretamente ao seu jovem cliente, procurando saber quais são suas queixas e, principalmente, quais são as suas expectativas.

Nesse momento, com freqüência os pais ou acompanhantes adultos interferem, querendo menosprezar e reduzir essas expectativas, até mesmo ridicularizando o que é apresentado como um sonho a se realizar.

Sem tirar a autoridade do adulto-acompanhante, o cirurgião irá dar uma atenção especial ao seu cliente, valorizando suas colocações e aprofundando em suas fantasias, buscando ouvi-lo com respeito e sem restrições. Afinal, o momento da consulta é exatamente para isso: ouvir os desejos e fantasias do cliente para, só depois que isso ficar bem explicitado, procurar mostrar a realidade da cirurgia plástica, a realidade da própria medicina. Que tem limites e que não corresponde a uma atividade de deuses mas de seres humanos treinados e qualificados para tal.

Muitas vezes é esse um momento crucial onde os grandes desastres se iniciam. Querendo não perder o cliente - e a remuneração que ele representa - alguns profissionais não bem qualificados técnica ou eticamente aceitam e concordam com as colocações fantasiosas do jovem cliente e realizam tratamentos cirúrgicos totalmente contra-indicados. Acabam por trazer frustrações, complicações e aborrecimentos para o cliente e para si próprios, além de contribuírem para o mau conceito da especialidade.

Se o tratamento desejado corresponder às possibilidades para aquele caso, deve o cirurgião mostrar com clareza como ele poderá ser feito, quais são as suas chances de sucesso e quais as exigências pré, pér e pós-operatórias indispensáveis para o bom êxito da cirurgia.

Um ponto extremamente importante nesse momento é deixar bem claro quais as limitações pós-operatórias que caberão àquele caso já que os adolescentes, pelo natural excesso de energia que possuem, muitas vezes são rebeldes a certos cuidados essenciais.

Outro ponto muito importante e que exige especial habilidade do cirurgião, é a investigação sobre o uso de drogas, incluindo o tabaco e o álcool. Infelizmente esses vícios estão bastante difundidos entre os jovens dessa faixa etária e o medo, a vergonha ou a presença de adultos pode impedir ao jovem revelar esse uso.

O mesmo pode-se dizer da vida sexual e do uso de anticoncepcionais.

Não é tão raro jovens telefonarem para o cirurgião, logo depois de uma consulta, relatando o uso de produtos que negaram usar durante a entrevista, justificando a mentira pela presença dos pais ou responsáveis naquele momento.

Por isso é importante que se procure ter algum momento de conversa isolada com o jovem paciente, para lhe questionar sobre esses fatos. E fazê-lo de modo a lhe dar total confiança de que nada será levado a seus pais ou responsáveis, se ele assim o quiser.

Alguns pais, conscientes dessas possibilidades, costumam sugerir que o adolescente converse inicialmente à sós com o médico, deixando para participar da consulta numa segunda parte quando a conversa entre médico e paciente já se tenha esgotado naquilo que exige privacidade.

Apesar de parecer desnecessário ressalte-se, contudo que jamais o médico, cirurgião, deverá trair a confiança de seu cliente, revelando coisas que ele narrou na certeza de que o sigilo médico é um dos valores mais altos da profissão médica. Quando muito, poderá o cirurgião ser conselheiro, dando orientações adequadas ao jovem cliente sem quebrar o segredo da conversa, com terceiros.

No que diz respeito aos procedimentos médico-cirúrgicos mais freqüentes na adolescência pode-se enumerar:

1) GINECOMASTIA - Ocorre com relativa freqüência em jovens do sexo masculino de 12 a 18 anos, quando por influência hormonal ou por obesidade as mamas se acentuam.

Essa patologia traz enorme desconforto para o jovem paciente que se recusa a praticar esportes para não ter que tirar a camisa. Mesmo as camisetas mais justas são totalmente excluídas de seu vestuário.

Antes da indicação cirúrgica é importantíssima uma boa propedêutica para se afastar a existência de problemas endocrinológicos mais graves. Uma consulta com o endocrinologista muitas vezes pode ser de grande utilidade.

Se o aumento das mamas estiver relacionado com obesidade, há uma maior possibilidade do conteúdo das mamas ser essencialmente de tecido gorduroso. Nesses casos a lipoaspiração proporciona um excelente resultado.

Se ao exame clínico forem detectadas áreas endurecidas, é de se supor que haja um componente glandular importante. Nesses casos a lipoaspiração poderá não proporcionar um resultado satisfatório, sendo indicada a excisão do tecido glandular em excesso através de uma incisão periareolar ou transareolar, que deixam poucas cicatrizes visíveis.

Quando ao redor da glândula nota-se tecido gorduroso abundante, uma lipoaspiração removerá o tecido adiposo, deixando somente o tecido glandular que será simultaneamente retirado pela cirurgia convencional.

Após a cirurgia, seja ela qual for, é recomendável o uso de uma faixa elástica em torno do tórax, por um período mínimo de uma semana, sendo o ideal, 15 dias.

Depois, haverá um período de endurecimento local que poderá ser tratado com massagens adequadas, logrando-se a normalização da elasticidade local após um período não inferior entre 3 e 6 meses.

Geralmente o resultado é extremamente satisfatório, tanto do ponto de vista clínico quanto psicológico para o jovem paciente.

2) HIPERTROFIAS MAMÁRIAS FEMININAS - O ciclo menstrual tem inicio, quase sempre em torno dos 12 ou 13 anos de idade. Nessa época já tem início o crescimento das mamas que pode, rapidamente atingir grandes volumes, trazendo desconforto físico e psicológico para a adolescente.

A época ideal para se indicar uma cirurgia redutora das mamas é após um tempo de 3 anos de ciclo menstrual regular, somado à informação de que o tamanho das mamas se encontra estável há mais de um ano.

Nessas condições pode-se perfeitamente fazer uma cirurgia redutora, desde que se utilizem técnicas que respeitam inteiramente a anatomia e a fisiologia das mamas.

Técnicas que, com o propósito de evitar futuras ptoses ou para evitar incisões maiores, modificam a anatomia de modo radical, devem ser evitadas. Não se justifica impedir uma possível amamentação no futuro nem a perda da sensibilidade erótica somente com a desculpa de se tentar manter mamas levantadas e sem cicatrizes aparentes.

É importante lembra-se de que os cuidados no tratamento das feridas são muito mais importantes do que a extensão dessas mesmas feridas. Uma grande cicatriz, de ótima qualidade é bem menos traumática do que uma pequena cicatriz de péssima qualidade!

3) HIPOTROFIA MAMÁRIA FEMININA - Quando uma jovem atinge seu 3º ano de ciclo menstrual normal, conservando mamas extremamente pequenas - ou até quase ausentes - deve-se recorrer a um endocrinologista como primeira etapa de tratamento. Caso o problema persista, a solução será a colocação de próteses mamárias de silicone. Afinal, tanto as mamas exageradamente grandes como as demasiadamente pequenas constituem problemas psicológicos importantíssimos para uma jovem mulher.

As próteses de silicone, hoje bastante popularizadas para o aumento exagerado das mamas, foram desenvolvidas na década de 60 para o tratamento cirúrgico das displasias mamárias. Retirava-se as glândulas comprometidas pela doença fibrocística e o volume e a forma das mamas eram restaurados pelas próteses.

Muitas controvérsias surgiram em torno delas porém hoje sabe-se que se trata de material seguro e de ótima indicação para os casos específicos.

Contudo o aumento exagerado, desproporcional, é uma violência contra a natureza e deve ser evitado. O tamanho das próteses deve proporcionar à paciente mamas confortáveis e de acordo com o seu padrão corporal e torácico.

Sua colocação tanto pode ser por detrás do músculo peitoral como acima do músculo, detrás das glândulas. Em qualquer das duas posições a prótese ficará bem ocultada, sendo quase imperceptível à apalpação. E não interfere com a fisiologia mamária já que está por detrás da glândula, apenas projetando-a para frente. Assim como não impede futuros exames preventivos do câncer mamário.

4) SÍNDROME DE POLAND - É uma deformidade torácica congênita, de transmissão possivelmente genética, onde além de uma depressão esternal pode-se encontrar a ausência de uma ou mesmo das duas mamas, sendo essa última bem mais rara. Juntamente com a deformidade torácica pode ocorrer deformidade também do antebraço e da mão.

Quando a deformidade atinge a arcada costal e o esterno, o tratamento cirúrgico é complexo e de grande porte, exigindo o levantamento das partes ósseas deprimidas. Quando a deformidade ocorre predominantemente com a ausência ou hipotrofia da mama, o tratamento será realizado pela mamaplastia de aumento, utilizando-se prótese de silicone. A época para essa cirurgia corresponderá a época de indicação da correção de hipotrofia mamária.

5) DEFORMIDADES NASAIS - As deformidades nasais mais comuns são:
a) Rinomegalia - caracterizada pela presença de uma giba ou dorso nasal elevado, ponta projetada e por vezes globosa.
b) Ponta globosa - caracterizada por uma aparência arredondada da ponta sem, contudo ter alguma deformidade no corpo nasal.
c) Nariz negroide - caracterizado por um dorso baixo associado a uma ponta larga e achatada.
d) Rinoescoliose - caracterizado por um desvio lateral da pirâmide nasal, quase sempre acompanhado de desvio do septo, com obstrução respiratório mais ou menos acentuada. Pode ser congênita tanto quanto seqüela de traumas da infância.

Todas essas deformidades podem ser corrigidas após a idade de 14 anos, dependendo do estado evolutivo do adolescente. Se ele ou ela se apresenta com desenvolvimento normal para a idade, a cirurgia pode ser realizada sem qualquer inconveniente. Contudo cabe ao cirurgião ser o menos traumático possível.

Hoje, a tendência nas rinoplastias é evitarem-se os narizes demasiadamente pequenos e as pontas excessivamente levantadas (arrebitadas), proporcionando um resultado, o mais natural possível.

A rinoplastia pode ser realizada sob anestesia local ou regional. Contudo, nos casos onde deverá ser feita a fratura dos ossos nasais há uma preferência pela anestesia geral, evitando-se para o jovem paciente o trauma da intervenção sobre os ósseo que, apesar de não doer, ressoa no crânio e traz muito desconforto.

Alguns cirurgiões porém preferem exclusivamente a anestesia local, associada a uma sedação mais profunda do paciente. Tudo é uma questão de preferência e, sobretudo, de interação entre o cirurgião e o paciente.

6) LIPOHIPERTROFIA LOCALIZADA - Os acúmulos gordurosas localizados, mais comuns no adolescente são no abdômen, nos flancos, nas nádegas, nos culotes, na face interna das coxas e dos joelhos.

Em épocas passadas eram problemas quase insolúveis pois repugnava aos cirurgiões deixar enormes cicatrizes para retirar um acumulo gorduroso localizado num jovem sem qualquer marca em seu corpo.

Com o surgimento da lipoaspiração, na década de 70 esse problema acabou-se e hoje a lipoaspiração se constitui num dos procedimentos cirúrgicos mais procurados pelos adolescentes.

O ponto fundamental é a indicação da cirurgia. Pois não se trata de um método mágico de emagrecimento mas somente de correção das gorduras localizadas.

Jovens com mais de 14 anos de idade, desde que bem avaliados e com indicação cirúrgica precisa, podem ser submetidos a esse tratamento. É, contudo, essencial que sejam bem orientados no sentido de que não se trata de uma solução definitiva e que portanto exigirá dele um cuidado posterior para não ter outros ganhos gordurosos pelo corpo.

A lipoaspiração não deve ser agressiva nem ter a preocupação de "retirar tudo" como pedem alguns pacientes. O tecido gorduroso é muito importante para a saúde do organismo e deve ser mantido numa certa quantidade indispensável ao correto funcionamento do organismo.

A retirada deverá ser cuidadosa, sem exageros. E o mais importante não será "quanto" saiu, mas o que ficou. Afinal, o que sair será desprezado enquanto o que ficar é que irá dar a nova forma corporal à pessoa.

Comentários a cerca de grandes volumes retirados são apenas bazofias sem qualquer finalidade que não a promocional. Contudo é de bom senso não se fazer retiradas superiores a 4 ou 5 litros de gordura de uma só vez. A média fica entre 1 a 2,5 litros.

A recuperação de uma lipoaspiração bem conduzida é geralmente rápida e segura. O paciente poderá voltar às suas atividades normais, excetuando-se exercícios físicos mais vigorosos, após uma semana.

Outros procedimentos cirúrgicos, como a correção de orelhas em abano ou de algumas deformidades congênitas são procurados na adolescência quando elas não foram corrigidas apropriadamente na infância, como já visto anteriormente. E outros procedimentos menos comuns podem ser solicitados por paciente adolescentes, porém esses são os mais comuns.

Também são comuns as cirurgias de urgência com traumas faciais, geralmente em decorrência de acidentes de trânsito. Contudo a parte de traumas e fraturas faciais deverá ser abordada separadamente, assim como as queimaduras.

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